terça-feira, 3 de março de 2015

Entre a estranheza e a familiaridade

Os objectivos pessoais são muito importantes, quando expressam o desejo de viver, de criação, de vontade de experimentar, na prática, a felicidade.

No entanto, se tais objectivos não incluírem suficientemente os interesses dos outros, as perdas serão, certamente, maiores do que os ganhos. No limite restrito do interesse egoísta, a pessoa fica, obviamente, a sentir-se só e em desarmonia com a natureza de vida interdependente com os outros. Na verdade, parece ser inviável a ideia de felicidade absolutamente solitária, sem um qualquer projecto de relação com alguém.

A autêntica criação é sempre plural, em que dois se unem para criar um terceiro, surgindo assim o fenómeno de grupo: um Nós alargado, criativo, que transcende as individualidades, mas integra cada Eu e cada Tu. Fazendo parte de um Nós dessa qualidade criativa e cuidadora, e contribuindo para tal, a pessoa vive um sentimento de pertença, o qual decorre do conceito primordial de família. Levamos e procuramos viver esse símbolo essencial, em múltiplos contextos, adaptando-o à lógica de funcionamento de todos os outros agrupamentos humanos, quer seja na escola/trabalho ou em qualquer outro tipo de relação social. Não é por acaso que, quando pensamos o que é o contrário de ser «estranho», a palavra «familiar» surge com muita naturalidade na mente, mostrando que, para superar a estranheza, o desnorte, enfim a falta de sentido na vida, a ligação com os outros, mediante sonhos conjuntos e acções partilhadas para os concretizar, é o que permite a construção da real felicidade.