Ela mantinha um olhar que parecia imperturbável, duro e gélido como um glaciar. Mas, à distância própria da intimidade, observei apenas lágrimas congeladas... dores por aliviar remetidas para algures de um futuro incerto. Poderia eu encontrar esse lugar fugidio, à espera de uma realidade calorosa que o tornasse presente?
Aflito, socorri-me das minhas memórias amorosas com ela e conduzi-as, sorrateiramente, para os meus olhos; sim, estava receoso que ela fugisse ao vislumbrá-las! Por isso, ainda antes de as revelar, juntei essas relíquias, ligando-as com elos delicados, pacientes e irresistíveis, dignos do melhor conto de fadas. Sentia-me agora munido com uma espada da Verdade e, já sem medo, rasguei os meus próprios véus de tristeza. Os meus olhos tornaram-se faróis de luz clara, quente e reconfortante. Rapidamente, dirigi-os para todas as direcções das lágrimas, nas quais ela, entretanto, naufragou... No momento certo, salvei-a com um forte abraço, lembrando-a da terra firme da nossa relação e disse-lhe apenas: "Por favor, não te percas mais nesse mar...".