A
atribuição de culpa, a si próprio ou a outrem, corresponde a um isolamento de
uma parte da realidade, dado que se deixa de interpretar o Nós, abrangente,
para se discutir as partes ilusoriamente separadas do Eu e do Tu, ficando,
assim, estas identidades desvalorizadas nos seus reais papéis
interpessoais. Nesta medida, as atribuições de culpa são distorções ou erros de
análise, uma vez que são excluídas observações relevantes de um todo em
apreciação. Numa qualquer relação não existe, de facto, um culpado pelo que
sucede; existem, sim, responsáveis, co-construtores nas múltiplas dinâmicas que
vão sucedendo no Nós.
Numa qualquer relação, o que sucede é mesmo resultado da acção de todos os seus
intervenientes e, nesta forma de entendimento, a culpa não consegue sobreviver,
dado que a sua natureza de restrição não se adapta a um «meio ambiente» de
compreensão global dos fenómenos interpessoais. No entanto, pelo facto de não
existir, na realidade, «o culpado», não se deve assumir uma outra ideia errada,
designadamente a da desresponsabilização de cada um no resultado global, mas
sim prosseguir uma perspectiva lúcida de desenvolvimento conjunto: todos
podemos ser importantes agentes de bem-estar nos sistemas relacionais onde nos
encontramos (familiar, social e laboral). Deste modo, de uma forma simples, a
noção de uma genuína responsabilidade vive-se através de exemplos deste tipo:
“Vamos lá identificar, claramente, o que ambos queremos, porque é nisso que eu
quero investir!”.