terça-feira, 2 de setembro de 2014

«Subviver» no agora...


O agora tem sido colocado num pedestal de filosofia de vida, mas, muitas vezes, de filosofia tem muito pouco, assim como de vida... Realmente, é necessário compreender o que é "viver no agora", para além do seu rótulo, o qual, por si só, nada mais diz para além de rudimentos de um pensamento oco.
Actualmente, a cultura geral de furor do imediatismo, na (i)lógica mental de "clics de internet", promove a necessidade do "já!" e, por isso, a intolerância a qualquer frustração. Neste quadro, não se cultiva a espera, ou seja, a paciência, nem se promove a reflexão e organização de projectos de vida, mas sim o tal deturpado e inquietante "viver no agora", com muita pressa a fugir de qualquer compreensão do vivido e numa corrida, desenfreada, para um futuro com referenciais fragmentados de planeamento. Compreender, profundamente, o passado demora tempo, o que "é uma grande chatice!" e planear o futuro exige trabalho mental, que "nem sequer é remunerado!".
Ora, o desejável "viver no agora" não supõe colocar umas pálas mentais que impeçam uma leitura adequada do mapa do presente, no qual se integra o saber de onde se vem e para onde se quer ir, devidamente sinalizado com os "quandos", "comos" e "porquês" que sustentem uma real orientação de vida.
Os processos baseados no desenvolvimento da atenção plena, associados ao foco no agora, requerem método, persistência e, desde logo, na sua base, uma suficiente compreensão que, cada instante, concentra tudo, mas mesmo tudo ao nível do tempo. Só existe realmente o agora, sim, mas nesse agora encontram-se todas as memórias do passado e expectativas do futuro, todas as experiências vividas e os sonhos por viver. Por isso, será bom compreender o presente na sua integralidade, porque, só assim, se conseguirá superar o desnorte de precipitantes "viveres no agora"...