- Bom dia! - disse ao entrar num elevador. Mas não estava lá mais ninguém... Julgou que era um estranho que ali se encontrava, sem ter percebido que era a sua própria imagem num espelho. Por um instante, sentiu que tinha perdido uma referência essencial de si mesmo e, por isso, ficou confuso e perdido; rapidamente, voltou a si, mas, agora, com uma profunda sensação de vergonha, porque sabia, dolorosamente, o que tinha feito... Abandonou-se durante muito tempo! Durante anos, dedicou tanta atenção ao olhar dos outros, aos seus julgamentos, críticas e elogios, que chegou ao cúmulo de já não se reconhecer!
Voltou para casa e observou-se durante horas ao espelho. De início, foi muito difícil e esteve quase a desistir, porque teve que encarar a expressão reprovadora do seu reflexo, mas, passados alguns longos minutos, um reconfortante pensamento neutral surgiu-lhe na mente: «Na relação comigo mesmo, nunca serei vencedor ou derrotado!». Agarrou-se, possessivamente, a esta criação mental, embora ainda não a entendesse na prática. Ainda assim, ocorreu uma transformação na atitude da sua imagem reflectida: a acusação tinha sido arquivada, embora a seriedade no seu rosto desse nota de algum receio em relação ao futuro. Então, lembrou-se, felizmente, de um jogo que fez, tantas e tantas vezes, no jardim de infância: «Quem rir primeiro, perde!». Um esboço de sorriso começou a dilatar-se nos seus lábios e, à medida que tal progresso ocorria, foi reconhecendo a sua verdade primordial: «Aconteça o que acontecer, sempre serei totalmente recíproco comigo mesmo!».