É importante ter consciência que o luto não é um processo de esquecimento, ao nível de um fenómeno de amnésia parcial ou total de uma relação vivida. Antes pelo contrário: um processo de luto bem sucedido requer a consciência clara do que foi vivido e da forma como essa relação se transformou, e continua a transformar-se. De facto, a sensação de perda, muitas vezes difícil e especialmente dolorosa, associada a um processo de luto, não deve ser experienciada, ilusoriamente, como uma destruição ou impossibilidade de vir a aceder a determinados conteúdos mentais e emocionais, mas sim vivida mediante a compreensão de um processo transformacional em curso dessa relação específica.
Importa salientar que, mesmo nos casos mais intensos de processo de luto, quer seja por uma ruptura relacional significativa, associada a uma escolha de um ou ambos os intervenientes dessa relação, ou mesmo por motivo de falecimento de alguém especialmente relevante para a pessoa enlutada, a relação, em si, nunca é eliminada, mas sim sujeita a uma transformação que a nova dinâmica interactiva solicita: de forma essencial e profunda, implica uma modificação da forma como o Eu se expressa, interiormente, face às memórias relacionais inerentes ao luto. Os resultados contínuos deste processo interno manifestam-se na forma como vai sendo modificada essa particular relação ao nivel externo, no domínio da realidade interpessoal e/ou face a símbolos que evoquem tal relação significativa.