É importante ir observando o amor que se investe em cada relação, de modo a que não sucedam injustiças. De facto, constata-se, com alguma frequência, e especialmente nos adultos, um fenómeno paradoxal: tratam-se melhor as pessoas mais distantes do que as que são mais próximas. Nestes casos, a gentileza, simpatia e até a alegria parecem ser mais fáceis de exteriorizar com pessoas que pouco se conhece, enquanto as pessoas que, supostamente, deviam ser mais amadas, são as que menor atenção amorosa recebem.
Vários motivos podem contribuir para estas desarmonias, mas um que parece ser muito esquecido é o do merecimento. Naturalmente, as relações mais próximas, como são as relações familiares, conjugais ou de namoro, são as mais relevantes para o desenvolvimento do bem-estar. Ora, quando se investe muito pouco nas relações mais importantes, no fundo o que se está a revelar é que se merece muito pouco ser feliz. Torna-se, assim, mais fácil investir, positivamente, em algumas relações de natureza social, mais ou menos distantes, com a garantia de que não desenvolvam uma real intimidade, dado que é a partir desse ponto que o problema de merecimento impõe toda a sua implacável censura amorosa.
Como resolver, então, este problema? A solução é óbvia, porque é exactamente aquilo do qual se resiste: o amor da maior qualidade e intensidade. Assim, na maior parte dos casos, tal não significa passar a tratar menos bem algumas pessoas para tratar melhor outras, mas sim estar consciente da necessidade de investir o maior e melhor amor nas relações especiais. E, quando se procede dessa forma, o merecimento aumenta na sua justa proporção, estimulando, assim, que mais amor possa ser devidamente oferecido.