- Está tudo bem, filho! Está tudo bem! Não tarda estás em casa a brincar! - dizia a mãe, a cada 3 minutos, com uma notável precisão cirúrgica, tentando eliminar a ansiedade da criança e de si própria. O pai nada dizia e evitava olhar para o seu filho, tal era o terror de o ver quase a partir...
A criança sabia que estava muito doente, até porque já tinha ouvido um médico a falar com os seus pais.
- Lamento muito! Restam-lhe apenas umas horas de vida - sentenciou o médico.
«Mas o que é isso da morte?», perguntava a si própria a criança, lutando contra a sonolência que sentia. Imaginava que iria fazer um grande passeio, mas não sabia bem para onde. «E vou sozinho? Quanto tempo lá vou ficar? Quem me vai buscar?», questionava-se ao ritmo frenético da aflição que a mantinha, assim, acordada.
Naquele quarto respirava-se apenas angústia, até que o avô paterno da criança a veio visitar. Assim que o viu, o infante sorriu de alegria mas, para seu espanto, o velho não o reconheceu. - Quem és? - perguntou o avô, com um sorriso sereno e um olhar curioso, mas, rapidamente, desinteressou-se pela resposta, passando a olhar, com uma paz inabalável, para um qualquer ponto no vazio. «O avô não me conhece como doente», julgou a criança, apaziguando-se muito com esse pensamento, o qual serviu de base para uma outra interpretação. «Ele mostra-me que já cá não está, mas sim que está à minha espera para irmos fazer o grande passeio!», suspirou, de alívio, ao perceber pela tranquilidade do avô que nada havia a temer com tal viagem. E, passados uns breves minutos... assim foi.