- Acho que já vejo como tu. Assustei-me ao ver ontem, à minha frente, uma amiga em duas dimensões!
- Ah, achavas-me maluco, mas agora parece que a loucura tem companhia! Estou a brincar. Sabes por que razão a viste dessa forma?
- Não. Apenas achei muito estranho e questionei-me até que ponto a cerveja que bebi ao almoço teria propriedades especiais.
- Meu amigo, atingiste um bom nível de sobriedade e não de embriaguez! Olhas para as pessoas observando, sobretudo, as suas mentes e, por isso, as vês nesses registos. Essa pessoa que viste limitou-se a duas dimensões. Escolheu ser fachada para cativar os outros e, com isso, obscureceu a sua profundidade. Olha lá, e já viste alguém numa só dimensão?
- Ah? Como? Isso é possível?
- Espero que nunca vejas, porque é uma situação muito grave. Nesses casos, as pessoas reduziram-se a ser uma mera linha. Praticamente, já não querem ser vistas pelos outros e não se querem ver a si próprias. Estão de tal forma deprimidas que pensam em deixar de existir. Perderam a esperança.
- E como ajudá-las?
- Através da compaixão, mas, na prática, ou seja, estando com elas e mostrando, pelo próprio exemplo, que é possível viver muito mais do que o estado de restrição em que se encontram.
- E existem pessoas que vivem, conscientemente, para além da terceira dimensão?
- Acabei de falar nelas. As suas vidas expandiram-se para além das suas próprias três dimensões espaciais, passando a integrar, harmoniosamente, a dimensão do tempo: estão, assim, focadas no serviço de ajuda às três dimensões dos outros.