quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Diálogo emocional

Uma tristeza insegura aproxima-se de uma alegria passageira e pergunta-lhe:

- Se dermos as mãos... deixarei de existir?
- Não - sorriu, confiante, essa alegria. Eu já vivi isso. Pelo que sei, apenas se abrirá uma porta do Tempo, através da qual vislumbrarás quem serás amanhã e eu recordarei, um pouco melhor, quem ontem fui.
Esta resposta conduziu, imediatamente, à concretização de tal gesto de união, levando a tristeza, num assomo abrupto de entusiasmo e, por isso, de alguma coragem, a enfrentar os efeitos de uma nova questão inquietante:
- E... se nos beijarmos?
- Ah, isso nunca experimentei - disse a alegria efémera, temperada agora com a diluição de uma ligeira tristeza, fruto de recordações remotas infelizes, e de uma notória ansiedade face a uma iminente nova vivência. Mas - continuou a alegria modificada - uma lucidez duradoura contou-me que um beijo, entre emoções complementares, derruba todos os obstáculos ilusórios do Tempo e do Espaço. Dessa forma, sim, deixaremos de existir como emoções isoladas e passaremos a ser verdadeiramente conscientes, ou seja, lúcidas. Queres isso?

Estas singulares tristeza e alegria, algo alteradas pelo início da sua relação, continuaram juntas a fantasiar, mas nada mais conseguiram dizer e fazer naquele dia...