segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O vínculo emocional fundamental: L(ove)

O psicanalista Wilfred Bion defendeu o vínculo emocional K (“Knowledge” – “Conhecimento”) como o elo mais importante nas relações humanas. Para este autor, o conhecimento do outro – que só pode ser genuinamente acedido numa perspectiva de conhecimento emocional – através da experiência de autenticidade nas interacções humanas, é essencial no caminhar para “O” (Bion designou por “O” o incognoscível, o infinito, o que revela bem a natureza e consciência espiritual do autor, que aliás não a escondeu ao longo da sua vida, nomeadamente nos seus textos de teor psicanalítico). Este percurso para “O” é, na minha opinião, a evolução da consciência pessoal do todo global a que pertencemos. Ora, sendo "O" a denominação que Bion escolheu para expressar tudo o que é, num dado momento, incognoscível, sustento que isso é natural, já que não se pode conhecer claramente um destino, sem ter concluído a sua viagem até ele. Contudo, à medida que há uma aproximação a “O”, é evidente que o vislumbre desse todo torna-se mais claro no horizonte da visão emocional de cada um.

Todavia, Bion considerou que o vínculo emocional L (“Love” – “Amor”) é subsidiário do vínculo emocional K, sendo algo que discordo, já que defendo uma posição contrária. De facto, a única forma de desenvolver um conhecimento emocional do outro é através de uma postura amorosa, existindo, obviamente, níveis diferenciados na sua expressão: relação de familiaridade (parentes), de amizade, de namoro e conjugal.

Realce-se que a expressão amorosa, por exemplo, numa relação de amizade é indubitavelmente menos intensa e qualitativamente diferente daquela vivida numa relação de namoro ou conjugal. Assim, em relações com parentes e em amizades próximas, e que sejam bem vividas, considero que o termo “partilha”, ilustra adequadamente o projecto em que os actores relacionais participam e, designadamente na amizade, os interesses comuns que perfilham, caracterizam em grande medida a construção da amizade; no caso das relações com parentes, o que tende a transparecer mais claramente ao nível da expressão da “partilha”, é o interesse e desejo que todas as experiências marcantes e etapas de vida do outro, sejam vividas da melhor forma.

Já numa relação de namoro ou conjugal, a palavra “intimidade” é, para mim, a que melhor evidencia a interacção nesses tipos de relação, uma vez que a conjugação e expressão de sentimentos amorosos dos parceiros poderá - se ambos desejarem e estiverem receptivos a essa experiência - atingir de tal forma uma dimensão especial, que permitirá o desenvolvimento da intimidade ao nível do sentimento nascido e criado a partir dela – a felicidade, sentida de forma consistente, e que pode ser entendida através da imagem de um deslumbrante florescimento emanado a partir de uma especial raiz relacional amorosa, bem cuidada e nutrida...

Nota: Para Bion existem seis vínculos emocionais nas relações humanas. Para além dos referidos neste texto, destaque-se o vínculo H (“Hate” – “Ódio”) como uma outra forma de expressão emocional, que Bion considerou ser igualmente subsidiária do vínculo K. Não tendo sido pertinente para a elaboração do presente texto a análise do vínculo H, irei reflectir, num texto posterior, sobre a sua particular manifestação nas relações humanas. Os restantes vínculos são expressões negativas dos três vínculos anteriormente descritos: -L, -K e -H. Saliente-se que a natureza do sinal "-" ilustra a actividade muito diminuída do vínculo de referência.