0) Não ser capaz de dar nem de receber – o sofrimento é, de tal forma, intenso, que as pessoas que se encontram nesta fase não só não dão Amor, como também rejeitam recebê-lo, uma vez que o medo de depender é avassalador. Note-se que só se acede a este nível, quando não é satisfeito minimamente, e de forma recorrente, o desejo de receber Amor (fase 1);
1) Desejo de receber – Inicia-se, naturalmente, o desenvolvimento da capacidade de Amar nesta fase, em que se acredita no potencial construtivo do Amor, mas impera o desejo de receber, dada a grande carência de Amor;
2) Desejo de receber e vontade de partilhar aquilo de que se gosta – nesta etapa, para além do desejo de receber Amor, sente-se a vontade de partilhar com os Outros, nomeadamente espaços, bens materiais e, genericamente, tudo o que a pessoa gosta, mas a capacidade de dádiva é diminuta, ou seja, apenas se consegue dar pouco Amor. Realce-se que a capacidade de partilhar algo, porque é importante para o Outro, significa o acesso a uma fase posterior da capacidade de Amar - fase 3 ou 4 , dependendo do tipo de motivação intrínseca;
3) Desejo de receber e capacidade de dar condicionalmente (reciprocidade/Amor condicional) – as pessoas, ao alcançarem esta fase, desejam receber Amor, e são capazes de o dar de forma significativa, mas apenas se houver reciprocidade;
4) Capacidade de dar sem nada esperar em troca (Amor incondicional) – Esta etapa final, tem um prazo indefinido para terminar, porque o Amor incondicional detém um constante potencial de crescimento. Porém, esta fase é difícil de atingir, e está sujeita a sistemáticas provas de resistência, uma vez que a gratificação interior pela dádiva incondicional terá que ser suficiente. Note-se que o Amor incondicional opõe-se claramente ao masoquismo, no sentindo em que no primeiro manifesta-se a alegria subjacente ao desenvolvimento consistente da capacidade de Amar, enquanto no segundo desenvolve-se o prazer através do sofrimento. Concluindo, Amar incondicionalmente significa, para mim, aquilo que aprendi através da espiritualidade: “Desejo que o melhor aconteça ao Outro, seja lá o que isso for”, ou seja, algo que no Amor condicional não se consegue, na medida em que se rege pela máxima: “Desejo que aconteça ao Outro, aquilo que julgo que é melhor para ele”, que é, invariavelmente, "aquilo que acredito como sendo o melhor para mim".
Importa salientar que podem existir avanços e retrocessos na capacidade de Amar ao longo do tempo. Para além disso, a capacidade de Amar pode ser diferente consoante as relações, como por exemplo: alguém pode estar na fase 1 em relação a determinada pessoa, enquanto em relação a outra pode estar na fase 3. Contudo, quando o Amor incondicional se encontra suficientemente consolidado, a capacidade que lhe é inerente passa a deter a qualidade de superar os desafios temporais e relacionais e, com o seu desenvolvimento, consegue-se Amar incondicionalmente tudo o que existe. A partir daí, o potencial de crescimento do Amor é, obviamente, apenas quantitativo, uma vez que a intensidade do Amor incondicional alcançou a máxima amplitude: o Todo.