terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A crença na finitude alia-se com o medo da felicidade...

A ideia essencial e aterrorizadora de morte de si próprio está sempre à espreita na mente. De facto, esse pensamento central tenebroso, apesar de obscurecido pelos automatismos de fuga ao seu pensar, encontra ramificações simbólicas mediante as vivências de separações relacionais, perdas e infortúnios de todos os tipos, estimulando a necessidade de evitamento de qualquer cenário/escolha sentido como potencialmente suscitante de uma dor intensa e inesperada. As escolhas humanas tendem a centrar-se, assim, na redução ao máximo de eventuais choques emocionais, ou seja, de dores lancinantes e incontroláveis.

Ao constatar-se a impermanência das manifestações de vida (ao nível da percepção do mundo, não há nada que, um dia, não deixará de existir), um investimento consistente na felicidade tende a ser sentido, de forma mais ou menos inconsciente, como um perigo muito relevante: aquilo que, na aparência mutante, possa ser vivido com muito amor, alegria e paz corre o risco de, a qualquer momento, ser perdido, manifestando-se como uma queda emocional abrupta, pujante e assustadora, ou seja, uma autêntica vivência de choque emocional.

Por conseguinte, o desejo de felicidade, apesar de tipicamente intenso, torna-se muitas vezes vago no seu processo de concretização face às exigências práticas da soberania do medo, obrigando à toma recorrente, apesar de habitualmente moderada, de antídotos da felicidade, ou seja, de escolhas diárias contrárias à vivência feliz. Procura-se, frequentemente, uma felicidade controlada, parcializada e efémera, enquanto seguro emocional face a perdas sentidas como inevitáveis, ou seja, o que vale pouco não poderá vir a doer muito...

Como libertar, então, a felicidade dos condicionamentos provocados pelo medo da morte e das suas manifestações simbólicas? A resposta, realmente vivida, passará pela escolha da alternativa às percepções finitas e ilusórias do mundo, ou seja, o investimento na visão interior do eterno imutável: o Amor...