O grande problema dessa aproximação/submissão à lógica médica é que os psicólogos clínicos deixam de ser aquilo que são, para passarem a ser auxiliares médicos, pseudo-médicos ou médicos ilegítimos. Nesta medida, essa forma de, aparentemente, ser psicólogo clínico, apresenta-se como um sinal de grande inferioridade profissional e, sobretudo, provoca uma confusão e indefinição do seu papel. Os psicólogos clínicos não precisam, nem devem, fazer uma parte do trabalho dos médicos, ao focalizarem a sua atenção sobre os sintomas, mas sim serem aquilo que são: especialistas na compreensão do «como» e dos vários «porquês» intra-psíquicos e relacionais (enquanto globais influências dinâmicas interactivas e não estritas causas redutoras), que participaram no processo de exteriorização observável de sintomas.
Em suma, o psicólogo clínico deve ser aquilo que é, ou seja, deve diferenciar-se naturalmente da classe médica, ao assumir-se como um profissional com conhecimentos técnicos aprofundados na compreensão dos processos mentais, utilizando, por isso, uma linguagem própria e específica, dessa natureza, nas suas avaliações psicológicas. Adicionalmente, esse saber é fundamental para outra área específica da psicologia clínica: os acompanhamentos psicológicos, nos quais é importante compreender o que está subjacente às queixas dos pacientes, de modo a poder intervir, de forma psicológica, no sofrimento mental e relacional, e não nos sintomas propriamente ditos.
Os medicamentos, e outras formas de intervenção biológica/corporal, são os recursos dos médicos para o seu objecto de intervenção - os sintomas dos doentes; a intervenção psicológica, decorrente de uma relação de acompanhamento psicológico, é o meio privilegiado, e específico dos psicólogos clínicos, para contribuir para o desenvolvimento pessoal e relacional dos seus pacientes.