segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Vivência evolutiva do ser

O culto pela erudição, bem como pela acumulação de todo o tipo de informações sobre o quotidiano mundano, promovem a adaptação social e, eventualmente, o reconhecimento de “inteligência” por quem interpreta essas características como qualidades. Porém, considero que a evolução humana não deve ser confundida com coleccionismo de conhecimentos intelectuais, uma vez que um autêntico processo de desenvolvimento implica, fundamentalmente, crescimento emocional.
Na óptica do ter, é habitual a referência acerca da ganância por riquezas materiais, mas os bens/valores imateriais - como são todo o tipo de conhecimentos mundanos - são muitas vezes privilegiados e, infelizmente, não são, habitualmente, utilizados para melhorar a atitude humana no mundo, cumprindo somente a função de apêndices, como jóias que se colocam nas vestes da personalidade, por forma a obter efémeros benefícios de auto-estima e elogios dos outros.
Ora, no abrir e fechar de olhos que é o tempo de uma vida, o foco do desenvolvimento não deve incidir sobre a personalidade – aqui entendida como o Eu/Máscara social – porque esta, simplesmente, desaparecerá no desprendimento que a morte do corpo físico implica. O que permanecerá da aprendizagem de uma vida, será apenas aquilo que se conseguiu desenvolver no (re)encontro com o Eu profundo, eterno e ligado a tudo o que existe. Nesse processo, um auto-questionamento metódico sobre a qualidade dos comportamentos, atitudes, pensamentos e sentimentos que cultivamos e manifestamos no dia-a-dia, parece-me muito útil como mapeamento identificador do ponto e direcção evolutiva/involutiva do ser. Em termos pragmáticos, a pergunta que devemos fazer, em cada momento de vida, é: “O que estou a pensar, sentir e a fazer visa somente o meu interesse singular, alheado do desejo dos outros, ou um contributo para a felicidade plural?”. Neste sentido, é entre o egoísmo - que ornamenta a máscara de personalidade, inviabilizando a possibilidade de contacto com a autenticidade do ser - e o altruísmo - através do qual o verdadeiro desejo do Eu profundo é satisfeito, porque sabe que a sua vida está sempre ligada à dos outros - que o ser humano deve saber identificar-se, e procurar centrar-se, cada vez mais, no pólo da generosidade, da felicidade construída com, e para os outros.